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quinta-feira, 26 de maio de 2011

Campo minado

Após sentir-se humilhado por ser barrado quatro vezes na porta giratória de um banco, o cidadão teve seu pedido judicial de reparação de danos morais julgado improcedente pelo Juizado Especial Cível de Pedregulho (SP).
Na sentença, o cidadão foi novamente humilhado ao ser considerado exageradamente sensível e aconselhado a se enclausurar em casa ou numa redoma de vidro. Além de acusá-lo de querer dinheiro fácil, que deve conseguir pela "velha e tradicional fórmula do trabalho", a sentença banaliza seus sentimentos ao compará-los com a "dor verdadeira" provocada pela morte dos jovens estudantes do Rio de Janeiro.
Interessante a comparação. Foi mesmo por conta de pequenas humilhações somadas que o jovem atirador do Realengo transformou-se em matador e, ao prestar-se a ridicularizar o cidadão em busca de proteção contra abusos a Justiça se fecha e passa a operar em campo minado e propício a disseminar vingadores e à repetição de tragédias.


Sintonia Fina

Precedida de dez insuspeitas páginas com publicidade de loteamentos e condomínios fechados, a matéria 'Quero uma casa no campo', publicada na Revista São Paulo # 41 (Folha de S. Paulo, 27.3.2011), discorre sobre o quanto é maravilhoso deixar a vida nas cidades para morar - literalmente - no meio do mato.
Todos os entrevistados são felizes e não parecem incomodados com os 100 ou 200 quilômetros de estradas, perigos e congestionamentos enfrentados todos os dias para poder trabalhar, muito menos com as consequências disso para o meio ambiente. Não há descontentes, nem desapontados. No contexto em que está colocada, até a opinião especializada da urbanista Ermínia Maricatto parece ressentida, estraga-prazeres, coisa de quem ainda não alcançou a graça.
Tão estranha a matéria que, em quadro comparativo, arrola como desvantagem o custo de "manutenção de jardim e piscina" e como vantagens "hípicas, campos de golfe, parques aquáticos, muros com cercas elétricas e sistema de câmeras", evidentemente acessíveis apenas aos muito endinheirados que, por isso mesmo, podem tê-las em qualquer lugar, inclusive nas próprias cidades. Nenhuma palavra sobre a atuação das associações formadas nesses loteamentos fechados para extorquir quem está dentro e ameaçar quem está fora. Não se tratou ali dos enormes prejuízos urbanísticos, sociais e econômicos que esse tipo de empreendimento instalado longe das áreas centrais causa às comunidades onde se instala. Nada foi dito sobre os recursos do orçamento de pequenos municípios, que são desviados da educação, saúde e saneamento básico e mal utilizados para a satisfação das necessidades de equipamentos urbanos (asfalto, água, esgotos, energia elétrica, telefones, gás, coleta de lixo etc) dessa parcela ínfima da população que deseja viver apartada e segregada da desigualdade humana para criar seus filhos brincando com "macaquinhos e tucanos".
Cuidado, o arquiteto e pensador Paulo Mendes da Rocha já cantou essa bola: "Meu medo é dessa geração toda educada atrás dessas muralhas, mais predispostos a uma sociedade fascista do que democrática. Cidadania se aprende na rua. Os jovens, hoje, estão voltados para dentro. E quando uma pessoa vive para si, torna-se perigosa para ela mesma."