Mostrando postagens com marcador Opinião. Loteamento fechado é do mundo moderno?. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Opinião. Loteamento fechado é do mundo moderno?. Mostrar todas as postagens

sábado, 27 de outubro de 2007

Loteamento fechado é do mundo moderno?

A Associação das Empresas de Loteamento e Desenvolvimento Urbano – AELO publicou o informe publicitário Boletim informativo mensal sobre loteamentos na edição de O Estado de São Paulo de 26 de outubro p.p., com o título “Loteamento fechado é do mundo moderno” no qual afirma ser esse tipo de loteamento, assim como as rodovias de duas pistas e o Rodoanel Metropolitano, inovações deste século 21, necessárias ao desenvolvimento e aprimoramento das cidades.
Aproveita o espaço publicitário também para praguejar contra “os retrógrados de plantão” que “recorrem a generosos espaços da mídia para semear ilusões por meio de teses ultrapassadas” e “tentar torpedear o bem-sucedido modelo de loteamento fechado.”
A intenção real do informe é a de contrariar entrevista publicada em suplemento do jornal O Estado de São Paulo (transcrita na íntegra nesta página), em que a Dra. Raquel Rolnik, ex-Secretária Nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades, critica duramente a existência e a implantação dessa modalidade de loteamento, sob os aspectos urbanísticos, econômicos e sociopolíticos. Nessa entrevista a Dra. Raquel descreve a forma urbana que vem junto com o loteamento - “um espaço fragmentado e conectado à malha urbana central por uma rede viária de alta velocidade, como é o Rodoanel e as Rodovias Bandeirantes, Anhanguera e Castelo Branco”, para concluir que isso provoca a “queima de mais gasolina e consequentemente cresce a emissão de gases do efeito estufa, com um forte impacto no aquecimento global.”
O redator do boletim informativo da AELO procurou extrair dessa declaração uma espécie de “combate à duplicação de rodovias e obras do rodoanel” e parece propor uma absurda relação de causa e efeito: Por estarem os loteamentos fechados, em sua maioria, implantados à beira das grandes rodovias, quem é contrário à existência desses loteamentos será também contrário à existência das próprias rodovias.
O argumento utilizado é, ao mesmo tempo, estranho e engraçado. Afinal, em que uma rodovia de duas pistas e o rodoanel metropolitano se assemelham ao loteamento fechado?
Em nada se assemelham, evidentemente. As rodovias Bandeirantes, Anhanguera, Castelo Branco e o Rodoanel Metropolitano são extremamente importantes para o desenvolvimento econômico do Estado de São Paulo e do País, para o transporte de pessoas e para escoamento da produção agrícola e industrial e, por isso, interessam à sociedade em geral. Já o loteamento fechado não é mais que um negócio comercial que interessa apenas aos proprietários dos lotes e às suas famílias.
Ademais, considerar o fechamento dos loteamentos como uma inovação do mundo moderno chega a ser risível. A idéia da construção de muros para a segurança e proteção dos habitantes deve ser tão antiga quanto a idéia da construção do abrigo para a moradia, da muralha da China ou das cidades muradas citadas nos textos bíblicos.
Ou, se quiserem, é idéia tão moderna quanto o demolido muro de Berlim ou o muro de Ariel Sharon, que Israel está erguendo na região de Gaza.