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quinta-feira, 29 de julho de 2010

Corsários, expostos mas impunes.

Editorial da Folha de S.Paulo, 29/07/2010.
Clóvis Rossi
São Paulo.

As notícias sobre a morte da Espanha, divulgadas insistentemente a partir do colapso da Grécia, não eram só prematuras. Foram também levianas, criminosas mesmo. Mas nada vai acontecer com todo o numeroso lote de "analistas", "economistas" e que tais que as espalharam. Nem com o jornalismo que as abrigou, acriticamente, como, de resto, tem acontecido sempre que os sábios das finanças se manifestam.
O dado mais espetacular a provar o obsceno grau de especulação envolvendo a Espanha vem da queda no prêmio de risco que paga para rolar sua dívida. Chegou a um pico de 278 pontos básicos, em meados de junho, ou 2,78 pontos percentuais acima do que paga a Alemanha, que emite os papéis de referência na Europa.
Agora, recuou para o nível em que estava antes do ataque especulativo que se seguiu à crise grega.
O detalhe é que o recuo se deu porque os bancos espanhóis passaram, com louvor, no chamado teste de estresse -ou seja, sua saúde é sólida o suficiente para aguentar outro tranco como a recessão pós-quebra do Lehman Brothers (exceção feita a cinco caixas de poupança regionais que todo o mundo sabia que cambaleavam e já estavam em processo de fusão).
Posto de outra forma: o tal de mercado especulou alucinadamente com a inviabilidade dos bancos espanhóis, estendendo a especulação à saúde da economia espanhola. O resultado do teste de estresse demonstra, cristalinamente, que não tinham nenhuma informação que justificasse o ataque.
Tratou-se, portanto, de pura pirataria financeira. Mais uma.
O pior, do meu ponto de vista, é que os jornalistas somos cúmplices da pirataria. Publicamos tudo o que os agentes de mercado dizem (ou chutam), sem qualquer contraponto. Para os corsários, não vale a regra de "ouvir o outro lado", que se usa nas demais situações.