E “muitos desses ativos, atraídos pelo baixo requerimento de capital pelas tranches sênior e super-sênior, foram mantidos dentro dos bancos, o que foi seguido pelos principais centros financeiros da Europa”.Nunca antes na história do mundo o sistema financeiro ficou tão interligado – e os riscos foram tão grandes. E assim a ruptura da bolha, iniciada em 2006 com os primeiros sinais de queda dos preços dos imóveis, provocou uma p a r a l i s a ç ã o geral na securitização. Mas, como afirma o estudo da MB Associados, é preciso “ter em mente que o estouro da bolha foi o gatilho da crise, mas ela por si só não teria levado a crise dessa magnitude. O problema foi a falta de confiança generalizada no sistema financeiro que paralisou o crédito e o processo decisório macroeconômico durante algum tempo”.Concorreram para a mais grave crise imobiliária da história um sistema de securitização “tão fora da alçada de regulação”, a venda de hipotecas a quem não tinha condição financeira mínima para pagá-las e regras do mercado subprime, tais como as cláusulas que previam o reajuste das taxas de juros dois anos após a assinatura dos contratos de empréstimo à moradia. “Quando as taxas de juros começaram a subir dos seus níveis historicamente baixos, a inadimplência no subprime começou, tornando-se o estopim da crise financeira”.Securitização não é vilã – Mas, enfatiza o estudo, “o vilão da história não é a securitização”, que “foi essencial e continuará sendo essencial para o desenvolvimento de qualquer mercado de ativos”, mas sim uma conjunção de fatores, especialmente liberalização financeira e políticas macroeconômicas muito expansionistas.Nos anos 80, a Suécia e a Inglaterra viveram situações de boom imobiliário, mas apenas na Suécia houve desequilíbrio macroeconômico, não na Inglaterra. Em Hong Kong, onde os preços dos imóveis incluem-se entre os mais altos do mundo, houve controle dos índices de inadimplência “porque a maior parte dos compradores é de classe média e ainda se exige um alto valor de entrada no pagamento do imóvel”, além de regras rígidas de concessão de crédito – exatamente ao contrário do que ocorreu nos Estados Unidos.A experiência brasileira – O estudo deixa claro que seria mais fácil analisar as condições brasileiras se existissem estatísticas confiáveis e amplas sobre o comportamento histórico dos preços. Para contornar esse obstáculo, foram analisadas as condições indiretas da economia – e elas são consideradas favoráveis pela MB Associados. A trajetória é sustentável, “sem riscos macroeconômicos relevantes”, enfatiza o texto. A perspectiva é de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 4,5% a 5% ao ano até 2015. Não há sinal de mudança de trajetória de política econômica, como liberalização financeira e taxas de juros excessivamente baixas. Os bancos passaram por ajuste após o fim da hiperinflação e, hoje, têm baixa alavancagem (o capital é da ordem de 18% dos ativos, embora essa relação pudesse ser de 11%, pelas regras da Basiléia). A regulação prudencial foi reformulada e o Banco Central dispõe de informações sobre a carteira de crédito das instituições. Com tais informações, o BC tem condições de evitar situações de risco sistêmico. Os depósitos compulsórios podem ser utilizados em momento de falta de liquidez, como ocorreu em 2008, evitando que instituições “mais fragilizadas” contaminassem o resto do sistema e dando tempo para se readequarem. Sobretudo, como o mercado secundário é incipiente – ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos –, “a maior parte do financiamento ainda é feita pelo SFH, o que vale dizer que toda a carteira de crédito tem que estar contabilizada no ativo do banco”. Dada a estrutura de financiamento, “fica difícil imaginar os bancos correndo riscos temerários, o que diminui enormemente a possibilidade desses créditos gerarem inadimplência”. As bolhas só estouram quando os preços dos ativos caem abruptamente, reduzindo o valor das garantias. Como a relação crédito imobiliário/PIB é de apenas 3%, “ficaria difícil imaginar que uma desaceleração dos preços dos imóveis pudesse trazer prejuízos significativos para o sistema bancário brasileiro”, afirma o estudo. Os juros altos, objeto da reclamação dos devedores, acabam ajudando a evitar a formação de uma bolha – “a Selic ainda é cara para o tomador e deveríamos ter vários anos seguidos de custo do dinheiro baixo para fornecer espaço para o crescimento de outros preços de ativos”.Uma questão relevante diz respeito à relação entre a evolução dos preços dos imóveis e da renda pessoal. “A diferença fundamental (em relação ao que ocorreu nos Estados Unidos) é que há um processo de crescimento forte da demanda na economia brasileira em vista do forte aumento da classe média nos últimos anos, considerados aqueles que ganham entre 3 e 10 salários mínimos por mês”. E a perspectiva de aumento da classe média continua, pois “mesmo com a entrada de cerca de 29 milhões de pessoas na classe média, devemos ter mais 20 milhões de pessoas entrando nessa categoria até 2015”. Também deverá aumentar, prevê o estudo, a participação das classes A e B – e a classe B é relevante em termos do potencial de consumo imobiliário. A MB Associados avalia a demanda anual média de habitações de cerca de 1,5 milhão de unidades (para a classe média) e cerca de 180 mil (para a classe B). “Se há uma demanda crescendo num ritmo mais forte que a oferta, é natural que haja pressão de preços. E isso pode ficar ainda mais visível em cidades relevantes como São Paulo e Rio de Janeiro”.Estudos internacionais demonstraram que em cidades consideradas “superestrelas”houve apreciação consistente e acima da média do valor dos imóveis “ao longo de mais de 50 anos”. Em síntese, os preços dos imóveis localizados em São Paulo tenderão a subir até 2015.
Estimativas de evolução do setor imobiliário – Os preços dos imóveis tendem a subir. Mas “a bolha começa a se tornar um problema quando o orçamento familiar não permite pagar a prestação do imóvel” – e o estudo considera razoável que as pessoas destinem 30% da renda para pagar a prestação. Com base em estimativas do sindicato da construção (Secovi), considerando um financiamento de 80% do valor do imóvel e taxas de juros de 11% ao ano, em geral e 9%, para os imóveis econômicos, “o crescimento da renda poderá comportar o crescimento dos preços dos imóveis sem implicar perdas na capacidade de pagamento das famílias”. Esse argumento – enfatiza o estudo – “é fundamental para a análise de bolha, pois uma das implicações é que a economia precisa continuar tendo perspectiva positiva de crescimento de renda e PIB para poder comportar aumentos significativos de preços de imóveis, diferente do que aconteceu nos exemplos citados” no exterior.
(Fonte: Revista do SFI)