Mostrando postagens com marcador Crédito Imobiliário. Os riscos da rápida expansão do crédito.. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Crédito Imobiliário. Os riscos da rápida expansão do crédito.. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Crédito Imobiliário. Os riscos da rápida expansão do crédito.

O Banco Central passou a monitorar com um pouco mais de atenção o forte avanço do crédito bancário. Seu diagnóstico geral continua a ser o de que o sistema bancário é sólido, bem capitalizado e capaz de avaliar satisfatoriamente os riscos. A preocupação é evitar que, em um ambiente de maior competição e juros menores, sejam cometidos exageros num ou noutro segmento. Nessa hipótese, poderá vir a baixar medidas preventivas pontuais, como fez em junho, quando limitou a exposição em câmbio do sistema financeiro.
Nos últimos dias, cresceram os alertas de analistas econômicos sobre os riscos do rápido crescimento do crédito. Quando as economias vivem ciclos prolongados de prosperidade, costumam ocorrer exageros que, em seguida, levam a desequilíbrios. Um dos exemplos clássicos são as bolhas nos mercados de crédito.

O crédito saltou de 22% para 34,3% do Produto Interno Bruto (PIB) entre 2002 e novembro de 2007. Cresceu 3,6 pontos percentuais do PIB apenas em 2007.

A última vez que avançou de forma tão acelerada foi em 1994, na euforia do Plano Real, quando passou de 29% para 36,6% do PIB. Em seguida, houve uma crise bancária, com as quebras dos bancos tradicionais, como Econômico, Nacional e Bamerindus.
O BC diz que os riscos hoje são menores porque a supervisão bancária evoluiu. Um diagnóstico interessante da saúde financeira dos bancos é feito semestralmente pelo relatório de estabilidade financeira, divulgado há algumas semanas pelo BC. O principal termômetro é o chamado índice de Basiléia, que, quanto maior, melhor, pois significa que os bancos têm mais capital relativamente aos riscos assumidos. O relatório mostra que o índice de Basiléia de um conjunto de 130 bancos analisados está em 18,8%, o que representa uma boa folga em relação ao mínimo exigido pelo BC, de 11%. Em 2002, antes do "boom" de crédito, o índice de Basiléia era menos favorável, em 16,7%.
Ou seja: se é verdade que os bancos expandiram agressivamente as carteiras de crédito, eles também aumentaram bastante o capital próprio, graças aos altos lucros e às captações no mercado, como na recente onda de ofertas públicas de ações de bancos médios. Assim, os riscos assumidos até agora no crédito estariam bem cobertos por mais capital próprio. Mas e se uma crise produzir uma alta generalizada da inadimplência?
As simulações do BC mostram que, se houvesse uma deterioração nas carteiras de credito que fizesse todos os empréstimos caírem dois degraus na escala de classificação de risco, o índice de Basiléia ficaria em 16,3%, ainda confortavelmente acima dos 11% exigidos pelas normas do BC.
Isso não quer dizer que o sistema esteja imune a turbulências. Crises bancárias costumam começar em segmentos muito localizados do mercado, disseminando ondas irracionais de desconfiança sobre todo o sistema. Ex-presidente do BC, Armínio Fraga questionou em entrevista ao Valor há duas semanas se não estaria havendo exageros no financiamento de veículos, com operações com prazos de 99 meses.
O volume de financiamentos a veículos triplicou desde 2002, passando de R$ 26 bilhões para R$ 79 bilhões. As operações de "leasing" para pessoas físicas cresceram impressionantes 102% nos 12 meses encerrados em novembro, chegando a R$ 27 bilhões. Os bancos concedem empréstimos para um público que, até pouco tempo atrás, estava completamente à margem do mercado de crédito.
O que faz esse mercado crescer tão rapidamente é o sistema de alienação fiduciária, em que o bem dado como garantia - o próprio carro - pode ser retomado rapidamente em caso de inadimplência. Prazos muito longos conspiram contra o seu bom funcionamento. Quando uma operação passa de 60 meses, a depreciação do veículo é avançada, e a garantia perde o valor.
A fiscalização do BC pondera que a situação está longe de ser preocupante. Mesmo com a inclusão de novas massas ao financiamento de veículos, a inadimplência se mantém estável em meros 3%. E, embora alguns bancos estejam concedendo financiamentos com até 99 meses, a realidade é que o prazo médio das operações é inferior a 20 meses. Além disso, as margens brutas do bancos, apesar da queda dos "spreads", ainda são generosas e capazes de suportar riscos. "Financiamentos longos são um mau negócio para o tomador de crédito, não para o banco", avalia uma fonte do BC.

Não está no segmento de veículos, mas no financiamento imobiliário, o centro das atenções do BC. A expectativa é que, a exemplo de outras economias, os empréstimos para a aquisição da casa própria passem a responder por uma fatia importante das carteiras de crédito dos bancos. Até agora, não foram criadas distorções, como a valorização exagerada de imóveis. Mas esse é um mercado que, potencialmente, pode criar maiores problemas, sobretudo em um contexto de queda dos juros de longo prazo.

Para o presidente do BC, Henrique Meirelles, os riscos presentes neste ciclo de expansão de crédito são, em tese, semelhantes aos que contaminam o mercado financeiro como um todo em momentos de euforia. Desde o início deste ano, ele vem alertando para certa miopia dos mercados, que fazem apenas apostas unidirecionais. O BC acha que desequilíbrios criados pelo mercado acabam, a princípio, sendo corrigidos pelo próprio mercado. Mas, em algumas circunstâncias, pode ser necessário lançar mão de apertos na regulação.

Fonte: Jornal Valor,edição de 28/12/2007. Repórter Alex Ribeiro.