
E agora tudo desabou. O chamado "efeito marola" está se propagando para muito mais longe, e, à medida que essas ondas avançam, elas estão fazendo muitas vítimas e infligindo muitos danos. E não há dúvida de que esse vendaval está derrubando muitas árvores; e há muitas outras que ainda vão cair, revelando sua podridão interna. Algumas das baixas têm estado em todas as manchetes: Bear Stearns, Northern Rock, Lehman Brothers, Washington Mutual, o Halifax Bank of Scotland. Outras, como Morgan Stanley e Goldman Sachs, se converteram em criaturas financeiras de tipo diferente para poderem sobreviver.
É improvável que esse jogo de "mortos e urubus" vá parar em pouco tempo, já que muitos outros bancos de dimensões médias estão equilibrados à beira do abismo.
À medida que a chamada economia global se contrai, muitas das empresas que formam suas bases vão sentir os efeitos dolorosos disso. Em última análise, então, o maior perdedor pode muito bem ser os próprios Estados Unidos, e não me refiro unicamente aos padrões de vida de dezenas de milhões de seus cidadãos, mas à sua influência militar-estratégico-diplomática nos assuntos mundiais. Se o status de grande potência de um país se fundamenta essencialmente em seu poder econômico e financeiro, então a crise atual dos mercados de crédito não pode deixar de ser prejudicial aos EUA.
E uma parte tão grande disso tudo tem a ver com aquelas hipotecas de 105% e com a arrogância, a cobiça e a insensatez daqueles que as concederam, dos que as contraíram e dos Legislativos que revogaram a supervisão fiscal prudente. Neste nosso mundo globalizado e interligado, nenhum homem (ou mulher) é uma ilha. Assim, nas palavras imortais de John Donne, "nunca pergunte por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti".
(Leia o texto completo na Folha de S. Paulo, Caderno Dinheiro, 7.10.2008)
Paul Kennedy, da Tribune Media Services, ocupa a cadeira J. Richardson de História e é diretor de Estudos de Segurança Internacional na Universidade Yale. É autor de "Ascensão e Queda das Grandes Potências". Tradução de Clara Allain