
Tivesse pensado melhor, tivesse mais tempo para pensar melhor, talvez não topasse. Isso é loucura, seu Juscelino. Precisa mais tempo. Precisa mais gente. Como é que o senhor vai me contratar assim, do nada? Ou simplesmente nem questionasse aquela insanidade, hoje a noite, desculpe, o pessoal vai em casa jogar biriba. Naquela época se jogava biriba, segundo a lenda. Passa amanhã, jotaká.
Mas vocês conhecem, além da estória, a história, e o resto - e que resto - foi conseqüência. Você, que reclama diuturnamente da reserva de mercado que ele impôs ao Brasil, toparia projetar sozinho, com a verba que quiser, todos os prédios da nova capital do seu país? Mais, ia ficar à vontade o suficiente para desenhar estruturas colossais que ninguém sabia ainda como por de pé?
Claro, Niemeyer sempre foi corajoso - já havia até passado um pito público em Le Corbusier durante o projeto do MEC - mas aceitar a escala de Brasília, de obra e de responsabilidade, só parece humanamente possível para alguém que já tivesse experimentado algo parecido, como em Pampulha.
Daí o resgate daquela noite em Minas. Seja porque não teve tempo pra pensar - ou, bem, porque arquitetos na casa dos 30 anos fazem verdadeira loucuras para arranjar trabalho - o fato é que naquele quarto de hotel mal iluminado (well, lenda é lenda) nos idos da década de quarenta, o cara (não) foi dormir Oscar, mas acordou Niemeyer.
Que aparentemente vive feliz, e para sempre.
Alberto Barbour, architecture.blogger.com.br